Eu não tenho filhos, mas por ter um enteado, muitos sobrinhos "diretos" e "indiretos", acabo vivendo, de tabela, uma realidade paternal. Confesso que isso tem me deixado um pouco preocupado... eu faço uma breve comparação com o que fui, o que tive e o que recebi em minha infância e o que acontece com as crianças hoje em dia e chego a pensar em um futuro muito ruim... sem criatividade... talvez até mesmo "sem coração".
Dia desses estava conversando com uma amiga minha e ela estava me contando que o seu filho estava em fase de "adaptação na escolinha"... ela levava o filho lá, ele ficava uma horinha e depois voltava pra casa... isso se deu por uma ou duas semanas... nossa! Eu juro que eu me lembro da minha adaptação no maternal... aquilo me marcou tanto, que eu juro que me lembro.
Ir até o corredor e ver que a minha mãe estava lá, mesmo que há uns 20 ou 30 metros (metros de criança, ou seja, uns 4 metros de adulto) era a garantia de "tranqüilidade máxima"! Sei que por muitas vezes chorei, sofri, mas não morri e nem por isso me considero "menor" ou "maior" do que sou... quero dizer que eu acredito, de alguma forma, que isso foi importante para minha formação.
Toda vez que eu fazia besteira, eu era repreendido... se fosse sério, ficava de castigo... se fosse leve, tomava bronca... se fosse MUITO sério, tomava palmada. Hoje em dia é mais ou menos assim... se for leve, nem se comenta... se for sério, o pai "amigo" bate um papo com o filho "amigo", de "igual para igual"... se for MUITO sério, depois de MUITO papo de "amigo", de "igual para igual", a criança ou adolescente, fica sem Play Station naquele dia.
Quando eu estudava, havia o teste, a prova e o provão... hoje tem trabalhoS, testeS, provaS e, caso o aluno não passe mesmo com uma média medíocre, ele ainda faz mais uma prova. Mas, caso ele não passe, ele ainda tem a recuperação, onde suas notas são esquecidas e ele apenas deve tirar um "4" ou quem sabe, um mísero "5".
Ou seja...
Ir pra rua, correr, jogar bola com estranhos, cair, machucar, brigar, apanhar, bater, namorar, andar de bicicleta, rolimã, a-de-da-nha, banco imobiliário, festinha americana com menino levando refrigerante e menina salgado, rodar sem rumo no shopping só pra ver as menininhas, "uma vez na vida outra na morte" jogar Atari na casa do amiguinho milionário"... isso foi substituído por...
Play Station I (pros pobres) com os amigos, Play Station II (pros mais afortunados) com os amigos, Play Station III (pros ricos) com os amigos, MSN, SKYPE, Orkut, e... ?
Vamos lá...
MSN... cara, na minha época quando eu queria falar com um amigo eu ia lá na casa dele... até porque "dar linha no telefone" demorava tanto, que era mais rápido ir lá!
E-Mail... volta e meia eu namorava alguém de longe e era "cartinha" mesmo que eu mandava... comprava envelope, perguntava pro primeiro que passasse na minha frente o lado em que eu colocava o "meu nome" e o "nome do destinatário" e ia de bicicleta no correio da esquina...
Vídeo Game... pular corda com as menininhas, jogar queimado, jogar "vera", amarelinha, ir pra praia de manhã, ir pra praia de tarde, ir pra praia de noite, piscina, piscina, piscina... mal tínhamos Globo e SBT... era TVS!! (rs)
Eu tenho uma teoria, que minha irmã, psicóloga, não leia isso, que diz que, da mesma forma que o mundo é contado como "antes & depois" de Cristo... ele deve ser analisado como "antes & depois" dos Direitos Humanos, das Psicólogas e da Tecnologia.
Eu não posso apostar minhas fichas, mas duvido que Bill Gates, Warren Buffet, Steve Jobs, Barack Obama, Bono Vox, dentre outros, tenha tido uma infância tão pouco criativa quanto a de hoje em dia.
Bom... muitas pessoas me perguntam o motivo pelo qual eu não tenho filhos... e a minha resposta é sempre a mesma... o ser humano desaprendeu a criar e a educar e isso tornou o mundo "estranho". A maioria dos pais que eu conheço, dos novos pais, com idade entre 30 e 40 anos, não faz com seus filhos o que os seus pais faziam com eles. Ao invés de uma simples "dose" de tolerância, eles passaram a tolerar TUDO. Os pais de hoje não educam, eles negociam!
Não falo nem de bater ou mesmo repreender, falo em "deixar acontecer"... em "sonhos"... afinal de contas, hoje não se sonha por mais de 2 minutos... porquê com um "click" ele se torna realidade. Esperar ansioso um presente no "dia das crianças" ou mesmo no "Natal" pra que? Vamos sábado ao shopping!